Estranhamente e de modo quase que único parece que finalmente a cidade onde moro têm acordado para algo além de seus próprios umbigos. Parece que todos já não estão distantes do mundo, enquanto levantam-se no céus um alvoroço de apitos e buzinas, mesclando-se entre cartazes brancos com frases de desespero e apelo em nome de um Não Genocídio Cultural; Genocídio esse, que parece ter nos acordado como um sonho mal em meio a madrugada e que nos faz refletir. Refletir sobre qual é o nosso papel aqui nessa cidade, nosso papel como cidadãos Lemenses, mas antes de tudo como Filhos da Terra e do Céu.
Foi com tristeza que ouvi o fechamento do Cine Alvorada e mais tristeza ainda que ouvi que seria dia 31/03/2011 sua última exibição.
Sim! Seria a última vez que comprariamos os bilhetes de meia ou entrada cheia com a moça simpática da bilheteria que com seu olhar parecia conhecer a todos de uma pequena cidade que mescla nas faces do mundo. Sim! Seria a última vez que passaria pelo moço que recolhia nossos bilhetes enquanto fitava-nos com seu olhar desconfiado e engraçado fazendo todos parecerem de certo modo baderneiros para a sessão que iniciaria-se a pouco, enquanto corriamos para cantina para provar de balas, drops, pipocas e coca cola tudo para não deixar nenhum dos cinco sentidos falhar quando o da visão e da audição faria todo o trabalho pesado.
Lembro-me da primeira vez que coloquei os pés no cinema, eu fui assistir o filme do Rei Leão. Eu tinha 6 anos de idade. Entrei na sala olhei aquele mar de cadeiras que ia afundando cada vez mais até chegar em uma imensa tela nada parecida com a pequena TV de casa. Quando olhei para o infinito teto com um sol nascendo fazendo jús ao nome de Alvorada confesso que fiquei emocionado, muito embora nessa época simplesmente entendia qualquer emoção como empolgação e alegria. Jamais esquecerei essa imagem e das lágrimas derramadas em cada filme que assistia.
Jamais esquecerei dos rostos que via ao longe olhar para trás procurando meus amigos que viriam assistir juntos... e agora juntos poderemos perder algo que pertenceu a nossa construção social, a nossa educação mental.
Gostaria que todos da cidade acordassem e vissem que 50 anos será derrubada em 50 minutos e tudo isso irá se perder para sempre até que o último de nossa geração morra e tudo será deixado para trás.
Não podemos deixar que esse genocídio cultural aconteça em pequenas doses lentas de marteladas frias que quebram pedras. Pedras essas que seram de fato a nossa ruína cultural, pedras essas que no fim não contaram somente a história de um cinema "velho" que acabou mas sim pedras frias de uma cidade frívola e sem cultura onde é mais fácil alugar-se um dvd a cada esquina fácil do que participar de uma verdadeira catarse de emoções e sensações que felizmente somente a 7ª arte pode nos proporcionar.
Por tanto junte-se a nós, assine, grite, levante bandeiras. Não é pelo dono do cinema, não é pela prefeitura ou de seus complexos políticos e sim por NÓS! Pois tudo o que é belo morre nas mãos do homem, mas não na Arte!
Dyonisio Bacante!!!