quarta-feira, 15 de maio de 2013

OS RISCOS DO PERFEITO AMOR, PERFEITA CONFIANÇA


Desde que começamos a nos interessar pelo caminho da Arte, em
nossas primeiras leituras, vemos que existe um lema em nossa
religião: Perfeito Amor, Perfeita Confiança. Quando lemos alguns dos
livros que descrevem mais acuradamente ritos iniciáticos, descobrimos
que essas palavras são, em algumas tradições, chamadas de senhas para
propiciarem a cerimônia de iniciação. Senha? Por que? Seriam essas
palavras uma espécie de "Abre-te sésamo" para a entrada em um coven?

Apreender apenas intelectualmente essa idéia pode dar ao praticante
muitas impressões errôneas a respeito.

Afinal, por que Perfeito Amor, Perfeita Confiança são necessários em
nossos Círculos e Covens? Seria isso um ideal abstrato ou um lema a
seguir?

Já ouvi muito a respeito do significado dessa expressão, na maior
parte das vezes, o comentário ou é feito por neófitos, que acham
tratar-se apenas de um símbolo ou metáfora, ou é feito por
praticantes já experientes, mas desiludidos, que por terem já
vivenciado problemas de traições ou brigas não crêem mais seja o
Perfeito Amor, Perfeita Confiança possível. Muitas vezes ouvi que
Perfeito Amor, Perfeita Confiança são ideais utópicos, são algo a
sempre ser perseguido, mas um ideal inatingível.

Aprendi na prática da construção de um Coven, que iniciou sua vida
como um Círculo, que Perfeito Amor, Perfeita Confiança é uma
conquista feita dia após dia. Sim, é uma realidade se todos nós nos
imbuirmos da consciência da importância dessa realização. Que me
perdoem os que se contentam com menos. Não creio exista um coven se o
mesmo não mantiver entre seus membros laços reais e concretos de
Perfeito Amor, Perfeita Confiança. Laços que resistem à dureza da
vida do dia a dia, que desafiam a convivência na diversidade, que
persistem mesmo após confusões e desentendimentos. Laços que desafiam
o tempo e a distância, porque são laços maiores e mais profundos que
os laços de sangue.

Voltemos ao significado simbólico para perceber a magnitude do que
estamos examinando. Nos rituais da maior parte das Tradições existe
um momento chamado desafio, ou seja, se pede que o postulante diga a
senha sem a qual não pode ser admitido em nossa religião. Nessa hora,
usualmente, a pessoa tem um punhal apontado para seu coração e
declara que ingressa no círculo mágico em Perfeito Amor, Perfeita
Confiança. Ora, pensem bem: ele só ingressa no Círculo empenhando sua
palavra de agir em perfeito amor e confiança com o risco da própria
vida! Ou seja: para ser uma bruxa@/sacerdote/isa vc declara que arrisca sua vida em
função de sua palavra de agir por esses estritos parâmetros, tendo
sido a confiança de todos os demais depositada em vc. Em outras
palavras: ao entrarmos em um Círculo ou coven todos
empenham suas vidas no cumprimento do lema. Caramba! Trocando em
miúdos, isso significa que declaro que posso morrer se descumprir meu
juramento feito aos demais... Já pensaram nisso?

Ao dizer isso não quero amedrontar ninguém, mas sim relembrar quão
importante é o penhor de nossas palavras e quanto isso exige de nós
para que nossas palavras não sejam vazias, nem nossos atos despidos
de significado.

Aliás, não é somente entre as pessoas que compõem o coven que o
Perfeito Amor, Perfeita Confiança é o regente maior da vida. Antes de
tudo, esse lema nos lembra que em primeiríssimo lugar estamos em
Perfeito Amor, Perfeita Confiança com os Deuses e os Antigos. Eles, mais
do que todos, são os que merecem nosso incondicional amor e
confiança. É neles que estão nossos caminhos, são eles que recebem
nossas vidas em amor, para que sejamos seus instrumentos vivos e
conscientes no mundo. Se temos Perfeito Amor, Perfeita Confiança nos
Antigos, então, ao nos depararmos com nossos irmãos de coven,
saberemos neles depositar, sem medos, sem reservas, esses mesmos
sentimentos.

Viver com outrem em Perfeito Amor, Perfeita Confiança é algo bastante
arriscado, porém. Não é sem receio que abrimos nossos corações e
almas, revelamos nossos segredos mais profundos e partilhamos nossas
dores e aflições. Mas é dessa partilha que se nutre o Círculo Mágico,
é desse lançar-se ao risco que cresce a irmandade inabalável de um
coven de verdade. Um coven é um lugar onde nossa fragilidade será
respeitada, nossa força será estimulada, nossos erros serão
impiedosamente criticados e onde seremos ouvidos sempre em compaixão.

Mas os riscos existem sim. Infelizmente, algumas vezes vocês
encontrarão no caminho, como eu encontrei, pessoas que não mereciam a
confiança que neles foi depositada. Há entre wiccanianos, pagões e bruxas como em
todo lugar, pessoas falsas, fracas, infelizes, invejosas e traidoras.
Não se deixem intimidar por isso. Cada um de nós Iniciador que recebe
um novo dedicado, cada membro de círculo ou coven que recebe um
novato está sim se arriscando. Mas como no amor romântico, não existe
ganho se não houver risco.

Abram-se a esse risco sem medo, sabendo que se vocês mantiverem vivas
em seus corações a lealdade e a ação em Perfeito Amor, Perfeita
Confiança, nunca esses traidores e infelizes realmente os atingirão.
Eles são menos que pó, que o vento leva ao esquecimento.

Preservar-se demais impedirá vcs de encontrarem seus reais irmãos de
vida. Manter seus escudos e lanças sempre em riste não permitirá
jamais que vcs conheçam o que é viver em Perfeito Amor, Perfeita
Confiança.

O que é melhor? Arriscar-se a amar e ser ferido por isso, ou nunca
arriscar-se, não viver a dor, mas também nunca conhecer o amor?

Escolham por si. Eu fiz minha escolha há muito tempo e não me
arrependo. A Deusa nos dá o que precisamos viver. Se escolhermos o
Perfeito Amor, Perfeita Confiança, outros virão até nós e
encontraremos aqueles que como nós, nunca deixaram as decepções
macularem seu ideal de vida.

Ser uma bruxa, no meu entender, é abraçar o amor e entregar-se, por isso nossa senha é Perfeito Amor, Perfeita Confiança.

Abençoados Sejam!

Texto de; Mavesper Cy Ceridwen

MAGIA DE UMA BRUXA.


Para mim, a palavra Bruxa é deliciosa, impregnada de
antiqüíssimas memórias que remontam aos nossos mais remotos
ancestrais, que viveram em estreito contato com os ciclos
naturais e apreciaram o poder e a energia que compartilhamos
com o cosmo. A palavra Bruxa pode instigar essas lembranças e
sentimentos, até no espírito mais cético.
A própria palavra evoluiu através de muitos séculos e
culturas. Há diferentes opiniões sobre as origens da palavra
inglesa Witch (bruxa). No anglo-saxão antigo, wicca e wicce
(masculino e feminino, respectivamente) referem-se a um ou
uma vidente, ou aquele (ou aquela) que pode preverinformações por meio da magia. Dessas palavras radicais
derivamos a palavra wicca, um termo que muitos na Arte usam
hoje para se referirem às nossas crenças e práticas. Wych em
saxão e wicce em inglês arcaico significam "girar, dobrar,
moldar". Uma palavra radical indo-européia ainda mais antiga,
wic, ou weik, também significa "dobrar ou moldar". Como
Bruxas, dobramos, subjugamos as energias da natureza e da
humanidade para promover a cura, o crescimento e a vida.
Giramos a Roda do Ano à medida que as estações passam.
Moldamos nossas vidas e ambientes para que promovam as
boas coisas da Terra. A palavra Witch também pode ter a
origem na antiga raiz germânica wit — saber. E isso fornece
igualmente um certo insight sobre o que é uma Bruxa — uma
pessoa de saber, versada em verdades científicas e espirituais.
Nas origens de muitas línguas, o conceito de '' Witch''
fazia parte de uma constelação de vocábulos para significar
wise (sábio) ou "wise ones" (os sábios). Em inglês, vemos isso
com extrema clareza na palavra magic, a qual deriva do grego
magos e da palavra persa arcaica magus. Ambas estas palavras
significam "vidente" ou "feiticeiro". No inglês arcaico, o
vocábulo wizard significava "o que sabe". Em muitas línguas,
Bruxa é a palavra encoberta nos termos comuns, cotidianos,
para sabedoria. Em francês, a palavra para parteira é sagefemme,
"mulher sábia".
A sabedoria enriquece a alma, não apenas o espírito. E
diferente da mera inteligência, informação e sagacidade, que só
residem na mente. A sabedoria vai mais fundo do que isso.
Quando o cérebro, com sua multidão de fatos e peças de
informação, deixa de existir, a alma persistirá. A sabedoria
imarcescível da alma sobreviverá.
A palavra grega para a alma é psyche. Pensamos freqüentemente
nos psíquicos como indivíduos talentosos e raros
porque podem usar como fonte essa sabedoria universal, mas o
dom não é raro. Todos nós o possuímos; cada um de nós é um
indivíduo dotado de alma. Todos dispomos de poderes psíquicos ou poderes anímicos, e cada um de nós pode
reaprender — ou recordar — como usá-los.
Embora homens e mulheres compartilhem do poder da
magia, a palavra Witch tem estado mais comumente associada a
mulheres do que a homens; no entanto, os homens na Arte são
também denominados Witches (Bruxos). Durante a Era das
Fogueiras, 80% dos milhões de pessoas que foram queimadas
vivas por prática de feitiçaria eram mulheres. Ainda hoje, a
maioria dos praticantes da Arte são mulheres, embora esteja
aumentando o número de Bruxos. Há uma boa razão para pensar
na Feitiçaria como uma Arte feminina. O poder de uma Bruxa
ocupa-se da vida, e as mulheres estão biologicamente mais
envolvidas na geração e sustento da vida do que os homens.
Não é uma coincidência que quanto mais homens se fazem
presentes no momento do parto e assumem responsabilidades na
assistência ao bebê recém-nascido, maior é o número de homens
que se interessam pela Arte. O espírito dos tempos está levando
homens e mulheres a restabelecerem a ligação com os mistérios
da vida que se encontram nos ritmos naturais da mulher, da
Terra e da Lua — pois os mistérios da vida são os mistérios da
magia.
A magia é o conhecimento e o poder que promanam da
capacidade de uma pessoa para transferir a seu talante a consciência
para um estado inabitual, visionário, de cognição ou
percepção inconsciente. Tradicionalmente, certos meios e
métodos têm sido usados para causar essa transferência: dança,
canto, música, cores, aromas, percussão de tambores, jejum,
vigílias, meditação, exercícios respiratórios, certos alimentos e
bebidas naturais, e formas de hipnose. Ambientes espetaculares
e místicos, como bosques, vales e montanhas sagrados, igrejas
ou templos, também alterarão a consciência. Em quase todas as
culturas alguma forma de transe visionário é usada para os
rituais sagrados que abrem as portas para a Inteligência
Superior ou para o trabalho mágico.
Desde os tempos neolíticos, a prática da Feitiçaria sempre
gravitou em torno de rituais simbólicos que estimulam a
imaginação e alteram a consciência. Rituais de caça, experiências
visionárias e cerimônias de cura sempre tiveram lugar
no fértil contexto dos símbolos e metáforas próprios de cada
cultura. Hoje, as meditações e sortilégios de uma Bruxa
continuam essa prática. O trabalho de uma Bruxa é trabalho
mental e utiliza poderosas metáforas, alegorias e imagens para
revelar os poderes da mente. Os índios Huichol do México
dizem-nos que a mente possui uma porta secreta a que chamam
nierika. Para a maioria das pessoas, ela permanece fechada até o
momento da morte. Mas as Bruxas sabem como abrir e transpor
essa porta ainda em vida e trazer de volta, através dela, as
visões de realidades não-ordinárias que propiciam finalidade e
significado à vida.
As imagens e os símbolos da Feitiçaria possuem uma
qualidade misteriosa e mágica porque tocam em algo mais
profundo e mais misterioso do que nós próprios. Desencadeiam
verdades perenes represadas no inconsciente, as quais, como
sugeriu Carl Gustav Jung, o grande psicólogo e estudioso das
religiões do mundo, fundem-se com as respostas instintivas do
reino animal e podem abranger até a criação inteira. O
conhecimento mais profundo, do outro lado da nierika, é sempre
conhecimento do universo. Está sempre presente, ainda que,
como a chama de uma vela na luz ofus-cante do sol, pareça
invisível e incognoscível. Mas a magia transporta-nos para
esses domínios profundos do poder e do conhecimento. Ela nos
leva a mergulhar na suavidade do luar, onde a chama de uma
vela cintila constante. Pode fazer-nos transpor a nierika e depois
trazer-nos outra vez de volta.
Os conhecimentos profundos que provêm do inconsciente
nem sempre podem ser expressos em palavras; requerem
freqüentemente a poesia, o canto e o ritual. Algures no centro
da alma humana existe um senso de identidade que jamais pode
ser transmitido somente por palavras de um ser humano para outro. Cada um sabe haver em si muito mais do que pode ver ou
expressar, tal como sabe haver no universo mais do que
atualmente compreende. Na melhor das hipóteses, o indivíduo
só pode fornecer alusões e lampejos do seu eu mais profundo
através das coisas de que gosta, daquilo que teme, do modo
como se desempenha, da forma como
sorri. Guardado no centro do seu ser está o segredo do
que ele é e do modo como se relaciona pessoalmente com o
resto do universo.
O conhecimento que uma Bruxa tem de si mesma, da
natureza, do poder divino que transcende o próprio cosmo pode
expressar-se melhor através do mito, símbolo, ritual, drama e
cerimônia. Diz-nos Jung que a estrutura da mente resulta da
interação de energias arquetípicas que só podem ser conhecidas
em imagens e símbolos, e que os sentidos captam em rituais e
eventos numinosos. E verificamos assim que, desde os tempos
mais remotos, homens e mulheres virtuosos de todas as culturas
criaram práticas ricas em símbolos e metáforas que a mente
inconsciente reconhece e entende intuitivamente: tambores,
gemas, penas, conchas, varas de condão, taças, caldeirões,
ferramentas sagradas e vestimentas feitas de plantas sagradas,
animais e metais repletos de poder. São essas as imagens que
revelam os padrões de conhecimento que estão subjacentes no
universo físico. São essas as imagens que nos conduzem ao
poder secreto que se oculta no centro das coisas, incluindo os
nossos próprios corações. Com esses ritos e imagens podemos
— como dizem as Bruxas - "puxar para baixo a Lua''.

Texto de; Laurie Cabolt.